terça-feira, 18 de novembro de 2014

Memória Presente (setembro de 2014, Rio de Janeiro)

Mamulengo Rasga Estrada

Complementando com a mesma força este dia, tivemos a apresentação do Mamulengo Rasga Estrada com a Camila, China e Felipe e a direção do querido Danilo. Assim como o cortejo, o mamulengo é nosso boneco ancestral das ruas, onde nossas histórias e memórias são apresentadas nas figuras do Capitão, da cobra, do boi, do Benedito, do Padre e de tantos personagens do imaginário brasileiro. Foi lindo esse momento e tinha que ser realizado. Quando Camila tinha me perguntado ao telefone se seria possível eu não tive dúvidas: “Claro!” Um encontro de ativistas públicos culturais não pode nunca de prescindir do que temos de melhor para oferecer: Nossa arte.
Tivemos boas gargalhadas e o espetáculo contou com a participação por pura pressão de Lucas do Núcleo Pavanelli. Interação, peito aberto, roteiro flexível e contato direto com o espectador. E foi com essas possibilidades que acompanhamos com carinho a saga do Negro Benidito na sua saga em encontrar o Boi Estrela (espero ter acertado nos nomes, senão, por favor, Camila e Felipe, liberdade de correção), devorado pela Cobra Gigantesca, parente do Boitatá, quem sabe?
Ao final da apresentação, o sentimento era de alegria, de coração solto e alivio do peito. Sinto que um trabalho é muito quando sinais se apresentam aos nossos olhos, basta ter observado um senhor da qual não me recordo o nome, interno do hotel da loucura e que não parou d bater palmas ao final do espetáculo. Belo, simples e com muita a dizer. Longa vida para o Mamulengo Rasga Estrada.





Lua que No Céu se Encontra...

Não poderia deixar de terminar está crônica sem contar a história da apresentação da galera de Presidente Prudente. Quando Camila me ligou perguntando se poderia apresentar o espetáculo eu exclamei: “Claro!”. Não poderia pensar de outra forma, pois inconscientemente talvez eu sentisse a necessidade deles apresentarem este trabalho, ainda mais pela perda de maneira estúpida que tiveram de uma amiga, namorada, companheira e cheia de vontade como a Lua.
Neste encontro não teria como não comentar essa perda do teatro de rua no encontro da RBTR aqui no Rio, pois é o sintoma da doença que aflige a maioria das nossas cidades e do mundo, onde a força se posiciona como mantedora da ordem. Quando soubemos, foi um baque para todos nós que nós conhecemos rodando e gastando sola de sapatos nas estradas, rasgando as estradas, levando nossos melhores sentimentos para os espaços abertos.
E a melhor forma de honra os nossos que partiram é assim, exercendo nossa função no mundo, como artistas, como as forças desarmadas da população que através da nossa arte levamos propostas, possibilidades para um mundo melhor, revelando e manifestando este mundo que ai está e que só a arte pode colocar em xeque as suas contradições. Contradições estas expostas com humor e poesia na apresentação do Mamulengo Rasga Estrada.  Não poderia ser de outra forma, não poderia ser em outro lugar senão entre os que sabem o significado do teatro público de rua. Quando o Tá Na Rua completou dois anos de vida, foi para Brasília. Lá, os atores visitaram o Vale do Amanhecer, um local místico, criado pela Tia Neiva para poder energizar com luz a capital que, devido a sua função, se encontrava carregado de negatividade. Lá, a matriarca Neiva falou que “há dois anos esperava a visita do grupo”. Segundo suas palavras, em torno do planeta, existe um local onde os artistas desencarnados são levados. Lá eles continuam fazendo teatro, dança, poesia, contos, mamulengos, samba, forró, ballet, gafieira, revista, canto e música, produzindo energia positiva tão intensa que ajuda a iluminar os espíritos que necessitam de generosidade e boas energias, além de energizar positivamente o campo da Terra. Esse espaço no espaço se chama Circo Etéreo e é neste espaço que os artistas exercem um papel fundamental, enviar para os que aqui ainda estão, através da arte que exercitam, todo o poder de cura para os habitantes terrenos. Arte Pública energizando saúde pública no Etéreo. É lá onde imagino estar a Lua, no firmamento das estrelas, perambulando entre pares nossos, fazendo o que de melhor fazia aqui na terra: iluminando nossos caminhos com sua poesia, sua alma palhaça e seu imenso e lindo sorriso. Ela estará sempre presente em cada peça que realizarmos, em cada poesia que escrevermos, em cada música que tocamos, em cada porrete que Benidito dá nos costado do Coroné e em cada sorriso que se abre quando o artista se doa para o público e a cidade.

“ Lua que no Céu Flutua
 Lua que nos Faz Luar”


Herculano Dias